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A região do Cariri

REMINISCÊNCIAS KARIRI: MARCAS, COSTUMES E ENCANTAMENTOS

Localizada no Sul do Ceará, a região do Cariri é formada pelos municípios de Abaiara, Altaneira, Antonina do Norte, Araripe, Assaré, Aurora, Barbalha, Barro, Brejo Santo, Campos Sales, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Granjeiro, Jardim, Jati, Juazeiro do Norte, Lavras da Mangabeira, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Nova Olinda, Penaforte, Porteiras, Potengi, Salitre, Santana do Cariri, Tarrafas e Várzea Alegre, totalizando uma área de 17.390,30 km.

Chapada do Araripe. Foto Helio Filho.jpg

Detentora de características geológicas, paleontológicas, arqueológicas e históricas, e de uma das mais importantes bacias sedimentares do mundo, na qual estão presentes enormes quantidades de fósseis do período cretáceo inferior, objetos que constituem verdadeiras preciosidades do Araripe, tendo em vista que testemunham a existência de animais e plantas do tempo em que existia apenas um continente no nosso planeta chamado Pangéia.

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De clima ameno, fontes de águas cristalinas propiciadas pela formação geológica da Chapada do Araripe", que por ser constituída de arenitos na sua parte superior permite a infiltração das águas das chuvas, que ao se depositarem no solo formam o lençol freático de onde afloram fontes favorecendo a fertilidade do solo e consequentemente a variedade da flora e da fauna. Esta última conta com a presença de espécies endêmicas que estão ameaçadas de extinção, tais como o soldadinho do Araripe (pássaro de penugem preta, branca e vermelha) e o crustáceo de água doce conhecido como guajá do Araripe. As condições propiciadas pela Chapada do Araripe levaram o pesquisador Irineu Pinheiro no amor de 1950, a estabelecer um comparativo com o Egito. 

 

"Lê-se em Heródoto que o Egito é um produto do Nilo e egípcios são os que bebem as águas do grande rio. Parodiando o historiador grego, podemos dizer que o Cariri é um presente da chapada do Araripe e caririenses os que lhe bebem as águas das nascentes, as quais, em número de cento e tantas, originaram as cidades do extremo sul do Estado e as têm feito progredir" (PINHEIRO, 2010, p.21).

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Estas condições de ambiência ocasionadas pela Chapada do Araripe, motivou a atração à região de grupos humanos de várias localidades entre estes os índios da Nação Kariri, também chamada Tapuia°, os quais emprestaram o nome para a referida região. Posteriormente, mais precisamente entre os séculos XVIII e XIX, ocorreu a vinda de colonizadores para fixação no lugar, missionários e viajantes. Estes últimos, atraídos inicialmente pela procura de riquezas naturais, encontraram no território do Cariri, um espaço distinto do entorno e que se tornou motivo de exaltação e de estudo da flora e a fauna.

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De acordo com Figueiredo Filho (2010, p.6), os índios Kariri são oriundos da Serra da Borborema também conhecida como Planalto da Borborema, elevação que abrange os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte numa extensão de 400 km de norte a sul. De clima semiárido e índice pluviométrico baixo, uma vez que a serra é uma barreira natural de impedimento de passagem de massas úmidas do litoral para o sertão. A escassez de chuvas permitiu o processo de deslocamento dos nativos que ocorria de forma constante.

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Em tempos de seca, segundo sugere Baptista Siqueira (1978, p.50) estes indígenas serviram-se dos leitos vazios dos rios como estradas para suas migra coes. Nesse contexto o referido autor também sugere as direções tomadas pelos nativos para escaparem "... das áreas onde faltavam as condições de sobre. vivência: descendo o Pajei até a margem do São Francisco, nas proximidades de Sorobabé, Tacuruba e Cabrobó; outra através do leito do Moxotõe, última, seguindo o "riacho da Brígida™' (SIQUEIRA, 1978, p.57).

 

Para tanto, Baptista Siqueira diz que por coincidência talvez nas áreas de concentração das aldeias Kariri, que se estendia do sul do Ceará ao centro da Bahia, nas margens e ilhas do São Francisco e do oeste de Pernambuco às quebradas orientais da Borborema, originaram-se os topônimos Cariris Velhos, Cariris-de-Fora e Cariris Novos.

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As aldeias em que se agrupavam, eram formadas por várias habitações do tipo pau a pique, construídas com palha de babaçu cobertas com folhagem nativa ou de palmeira encontradas nas matas da região, dispostas em torno de um pátio onde se realizavam as festas e rituais. Os grupos de altiplano da Serra da Borborema na Paraíba, cuja parte foi depois aldeadas na Missão de Campina Grande, formavam o topônimo Cariris Velhos. Todos aqueles não incluídos nos grupos da Borborema eram os Cariris-de-Fora. Só mais tarde, o topônimo Cariris-Novos foi criado para identificar os grupos que apareciam pelos brejos ao pé da Chapada do Araripe, região que oferecia condições favoráveis a sobrevivência.

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A história do território caririense é constituída a partir dos primeiros habitantes da nação Kariri, que segundo Thomaz Pompeu Sobrinho apud Figueiredo Filho (2010, p.7), vieram pelo rio São Francisco, por volta dos séculos IV e V, e aqui se estabeleceram por volta dos séculos IX e X. Para Robert Lowie (1946, p.557), os Kariri do sul cearense habitavam principalmente, as localidades que hoje pertencem aos municípios de Missão Velha, Missão Nova, Barbalha, Milagres e Crato. Áreas em que ainda é possível encontrar vestígios materiais e elementos culturais que remetem a presença desses povos que aqui habitaram.

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Por: 

Sandra Nancy Ramos Freire Bezerra -  Doutora em História (UFF), Mestra em História Social (UFC), Graduada em História (CESA/PE), Professora no Departamento de História (URCA), Coordenadora do Programa Patrimonialização na URCA ligado a Pró-Reitoria de Extensão, Integrante do Comitê Intersetorial e bolsistas pesquisadora FUNCAP no projeto de "Elaboração de Dossiê para candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade (UNESCO): natureza, tradição e formação de um território encantado".

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Simone Pereira da Silva - Doutora em História UFF. Mestra em História (UFPB), Graduada em História (URCA), e bolsistas pesquisadora FUNCAP no projeto de "Elaboração de Dossiê para candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade (UNESCO): natureza, tradição e formação de um território encantado".

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